Advogado da União faz a primeira sustentação oral de um cego no STJ

O advogado da União Cláudio Panoeiro faz a primeira sustentação oral de um cego no STJ, hoje, 24/6/2009, às 14h.
Ele defende a União no caso do Horto Florestal do Tatu, localizado no município de Limeira/SP, que entrou na Justiça contra a União, reclamando a posse da área.
O terreno está, atualmente, ocupado por integrantes do MST. O Incra pretende regularizar a situação no local, segundo orientação da Portaria nº 258/08, do ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo.
Frente à perspectiva de reforma agrária, o município de Limeira entrou com mandado de segurança contra a União para suspender o ato do ministro.

Debut

Cláudio Panoeiro fará a primeira sustentação oral da sua vida no STJ aos 36 anos de idade.
” Considero um passo relevante para a história dos deficientes no Brasil, dos advogados públicos e do próprio poder judiciário “, ressaltou. ” Num momento em que se discutem as ações afirmativas, cotas e educação inclusiva, a AGU tem se notabilizado por ser uma Casa que dá oportunidade para todos, sem fazer qualquer tipo de distinção “.

No Rio de Janeiro, o advogado é coordenador do Departamento de Patrimônio e Probidade Administrativa – DPP. Há duas semanas, está prestando apoio temporário no Departamento em Brasília/DF.

Vida

Quando perguntado sobre o segredo de uma trajetória bem sucedida, Panoeiro afirmou: ” Tudo conspirou a favor, meus pais sempre me estimularam a estudar, nunca fizeram qualquer distinção entre os irmãos, nunca passaram a mão na minha cabeça, sempre cobraram resultado.
Nasci com retinose pigmentar e aos 10 anos comecei a estudar em braille “.
O primeiro grau foi feito no Instituto Benjamim Constant e o segundo, no Colégio Pedro II. As provas eram sempre em braille. Em 1994, com a criação do programa Dos Vox pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi possível ler, através de um sintetizador de voz, documentos na extensão txt.
Outras inovações tecnológicas foram aparecendo e melhorando o acesso dos deficientes visuais aos livros e processos judiciais.
A formatura em Direito aconteceu em 1998, quando Panoeiro já trabalhava como técnico judiciário do Tribunal de Alçada Criminal do Rio de Janeiro. Depois de se tornar advogado, entrou para o TJ/RJ como analista judiciário. Em 2005, passou no concurso da AGU.
” Na vida, a gente precisa, antes de tudo, de oportunidade “, concluiu, sem deixar de mandar um recado: os livros deveriam ser vendidos em formato digital. ” É hora de se pensar nisso no Brasil. As editoras resistem com o argumento de que isso fomentaria a pirataria. Mas, é preciso ponderar, já deve existir possibilidade de desenvolver tecnologia para bloquear esse risco “, defendeu o advogado da União.

Fonte: site da justiça