Amigos,
Como sabem todos, depois que a Laura nasceu tornei-me estudiosa da inclusão escolar, atenta as questões de acessibilidade e uma “fiscal” do que se fala “errado” sobre ter uma deficiencia, seja na mídia, no altar de uma igreja, ou entre amigos, sempr e com a intenção de informar, de ajudar as pessoas a verem pessoas e não suas deficiencias apenas.
Percebi depois de tudo que tenho vivido , em como me tornei uma cidadã de verdade , antes confesso , não sabia exatamente o valor dessa palavra. “Não jogar lixo na calçada.” ” “Respeitar a faixa de pedestre”. “Votar”.
Enfim, minhas ações se limitavam a esse repertório e seus afins.
Só depois mesmo da Laura é que fui percebendo e sentindo na carne o quanto de direitos de milhões de cidadãos são desrespeitados em nosso país.
Falo daqueles que por terem uma deficiencia são barrados nas escolas, no mercado de trabalho, nos espaços de lazer , nas bibliotecas públicas, nos relacionamentos , num simples passeio pela calçada .
Somos todos infratores das leis que permitem a esses cidadãos o livre acesso por todos os espaços sociais que desejarem.
Mas, estamos num país onde outros tantos direitos também são desrespeitados, visto a fome, a falta de moradia, o analfabetismo funcional, o trabalho escravo e etc , etc, etc, e etc, e ponha etc nisso .
O fato , é que não se enganem , uma pessoa com deficiencia sofre com maior pungencia todo esse descaso, sobre ela o ônus de todas essas infrações é ainda mais deletério. Falo que todos somos infratores na medida que não cobramos ações dos nossos governantes, não denunciamos e não nos envolvemos com esse “tipo de questão”.
Quando uma escola, por exemplo não aceita uma criança com deficiencia, aquele descumprimento vergonhoso da lei, é um problema daquela criança e de sua familia. Nunca ouvimos dizer que a comunidade de pais se levantou contra aquela atitude da escola .
Somos omissos, até que em nossa casa , quem sabe um dia haja uma criança com deficiencia, pode ser um sobrinho, um neto talvez, aí a questão passa a ser nossa. Mas, talvez isso seja um comportamento típico da natureza humana, do tipo de vida que se leva , até que a vida leva a gente.
Enquanto escrevo não sai da minha mente a noticia que recebi há cerca de duas horas: Morreu um excelente neurocirurgião aqui da cidade , viajando de carro para BH, um carro na contramão e nenhuma outra chance.
Não páro de pensar, mulher, filha, tanto sonho, tanta vida que ele já salvou e ainda poderia salvar.
Bom, vim para o computador e pensei quando li a carta que encaminho abaixo para voces, aliás, pensei não , tenho certeza : Isto sim vale a pena : Tentar melhorar a vida das pessoas que estão ainda vivas e nesse mundo, olhar para todos os lados e não só para o pequeno espaço que nos rodeia .
Há tanto para fazer. Desejo a cada um de voces que descubra seu modo , por onde fazer , mas não deixe de pensar nisso todos os dias.
Bem, mas falando da carta , o Ministerio da Cultura irá se reunir no próximo dia 29 de maio com representantes das editoras, demais orgãos do governo, Instituições, etc, para aprovar uma minuta que modifica a lei do livro no Brasil, numa tentativa de tornar o livro acessivel a milhões de pessoas cegas, com dislexia, dificuldades motoras,etc. O livro que para essas pessoas precisa estar no formato digital.
Sobre isso teria muito a falar e explicar a todos voces, porém o meu e-mail ficaria muito longo, vamos conversando aos poucos.
Peço então a todos que leiam a carta aberta escrita pelo Naziberto Lopes e a assinem conforme está sendo solicitado.
Esta atitude significa exercer um dever de cidadão, de gente que se importa com gente, que na verdade é o que realmente importa nessa vida .
Assinem e se puderem encaminhem a listas de discussão de que fazem parte. Este é um uso inestimavel da Internet e conto com todos voces.
Para finalizar , não gostaria de agradecer , e apenas desejar a todos voces, que desenvolvam a capacidade de reconhecer a oportunidade que têm diariamente de tornar este mundo um lugar melhor ,acho que nesta noite é o que consigo pensar sobre o que é estar vivo e em seu porquê.
Um abraço com carinho, da amiga Rosangela Gera
CARTA ABERTA
À Presidência da República;
Ao Ministério da Educação;
Ao Ministério da Cultura;
À Câmara dos Deputados;
Ao Senado Federal;
À Biblioteca Nacional;
AO GT DO LIVRO ACESSÍVEL;
À CORDE;
Ao CONADE;
À sociedade em geral.
O Movimento pela Leitura Acessível no Brasil, identificado abaixo por pessoas com deficiência, entidades associativas e representativas, fóruns virtuais de discussão, profissionais da área, familiares e amigos, vem reivindicar:
” Transparência nas discussões sobre a regulamentação da lei n10753/03, mais conhecida como Lei do livro, a fim de que possamos acompanhar e colaborar para que a referida Lei garanta nosso direito sagrado e inalienável à leitura;
” O acesso a todo e qualquer tipo de informação e conhecimento escrito, em formato acessível, nos mesmos lugares que se encontram os formatos convencionais;
” A interação direta com as editoras e livrarias, como qualquer outro usuário;
” A existência de leituras acessíveis em bibliotecas públicas ou privadas, nas escolas de todos os níveis ou qualquer outro lugar em que se busque informação e conhecimento escrito.
Reiteramos que a responsabilidade dessa discussão é de todos, pois está garantido na Constituição o direito à cultura, à informação, ao conhecimento e ao lazer, pressuposto de nação desenvolvida, justa, igualitária e democrática, norteada em dois de seus principais fundamentos:
a cidadania e a dignidade da pessoa humana.
Cobramos efetivamente a participação da CORDE e do CONADE, para que possam, uma vez que são componentes privilegiados do GT – abaixo mencionado, acompanhar de perto essa discussão, além de nos informar e consultar sobre toda e qualquer alteração, supressão ou inclusão de elementos na regulamentação da lei supra citada, com ou sem modificações substanciais.
Não podemos mais permitir qualquer tipo de limitação ao direito de todos à leitura, por constituir segregação e marginalização.
* Também a dependência de Instituições especializadas em prestação de serviços para pessoas com deficiência, configura-se no cerceamento do direito fundamental ao acesso à leitura e ao conhecimento.
Assim, estamos preocupados que a próxima reunião do GT do livro acessível, no dia 29 de maio, na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro para discutir essa regulamentação, delibere aquém de nossa principal expectativa, a saber:
a imediata e definitiva implementação da liberdade de escolha de livros que atendam nossas especificidades de leitura e autonomia.
Atenciosamente,
Naziberto Lopes Oliveira
PS.: A supressão das assinaturas da referida carta, se fez necessário, por uma questão de espaço…