Um pequeno inventário sobre a bengala

Olá pessoal. Fiz uma tradução livre do artigo referente ao uso da bengala por crianças cegas na pré escola com o objetivo de discutir este assunto , divulgá-lo, colher experiencias que possam me ajudar com a Laura .

Já faz algum tempo que comprei a bengala da Laura , ajustada para a sua altura, apresentei-lhe , mas não forcei o seu uso, apenas a deixei ao seu fácil alcance e de vez em quando ela gosta de brincar com ela, e logo no inicio assim que chegava alguém novo em casa , ela gostava de pegá-la para fazer uma demonstração, mas até então, este não foi um assunto levado a sério por nós e nem por ela.

Bom, achei este artigo muito interessante , ele trata da introdução da bengala através de um especialista , mas será que com informação e orientação , não podemos exercer esta função ?

Outros aspectos do artigo que chame atenção ou seja alvo de comentários esclarecedores, por favor os que tem experiência e disponibilidade se puderem comentar estarão contribuindo com as mães que possam ter acesso a este material e tem em casa um garoto ou uma garota querendo voar mais longe e livremente , ok ?

Bom, o artigo é gostoso de ler, desculpem-me pelas dificuldades de tradução e a quem interessar , ficarei muito feliz em iniciar esta discussão .

Rosangela Jera

Uso da bengala branca ( Orientação e Mobilidade para crianças na pré-escola )

Artigo da publicação de Susan Simmons e Sharon Maida , ambas especialistas em orientação e mobilidade para crianças na pré escola, em Los Angeles e New Jersey respectivamente . O trabalho completo de onde este artigo foi retirado chama-se ” Reaching, Crawling, Walking…let’s get Moving ” e é possivel fazer o dowload completo na Internet , basta colocar o titulo no google que ele aparece .

Introdução :

– O seu filho está caminhando pela casa e talvez pelo jardim . Como ele será capaz de ir para os lugares sem alguém segurando todo o tempo na mão dele ? Como ele poderá evitar uma queda quando houver um degrau ou obstáculo ? Como ele poderá ir a casa dos vizinhos sem voce ? Ele poderá ser apresentado a bengala .

-A bengala estará iniciando uma nova fase de liberdade na vida do seu filho .
Este simples instrumento tem sido o melhor amigo de muitas pessoas que são cegas .

Há técnicas especiais que seu filho aprenderá conquanto ele cresca e se desenvolva que o fará começar a ir a uma grande variedade de lugares independentemente .

A bengala oferecerá avançada advertência quando há uma mudança , tal como um obstáculo , degrau , ou demais coisas no caminho.
O seu filho tem alguma visão residual ? Muitos usuários de bengala têm uma siginificativa visão residual. Eles podem identificar pessoas familiares e caminhar ao redor de obstáculos sem colidir com eles . O uso da bengala permite que andem rapidamente através de areas não familiares ou que tenham se modificado.
Se o seu filho tem suficiente visão residual para andar em areas não familiares sem colisões ou quedas, ele pode não precisar usar a bengala até começar a escola , ou algumas vezes até mais tarde . Crianças grande limitação visual podem começar a aprender habilidades básicas quando ainda são mais jovens . Muitos pais relatam que seus filhos têm experimentado uma maior confiança quando aprendem a usar a bengala .

Iniciar o uso da bengala é um grande passo para voce e seu filho. Muitos de voces podem nunca ter encontrado uma pessoa cega .
Voce pode estar preocupado com o tipo de reação que causará nas pessoas quando elas olharem para o seu filho. Esta é uma reação natural ao que não é familiar . Dê a voce mesmo um tempo para ajustar-se . Pode ser útil encontrar-se com uma pessoa adulta cega . E se voce a encontrar , faça suas questões a ela . Pergunte-lhe como ela vive independentemente , que tipo de trabalho realiza , como se desloca de um lugar para outro , bem como sobre sua infancia .

Usando a pré – bengala ( artificios , estratégias de mobilidade )

Agora que o seu filho está andando ou quase andando independentemente , pode ser a hora de deixá-lo brincar com brinquedos de empurrar . Estes brinquedos são um tipo de artificio de mobilidade pre-bengala. Esteja seguro de que este brinquedo é estável e não inclina ou vira facilmente . Esses brinquedos são usados para que seu filho tenha alguma coisa para empurrar na frente dele e possa perceber os obstáculos antecipadamente. Estes brinquedos também ajudam a manter o equilibrio .

O especialista em orientação e mobilidade pode apresentar a voce diversos modelos de pré bengala que são designados para ser empurrado por seu filho . Eles devem deslizar facilmente pelo chão . Eles também devem mudar de direção facilmente . O seu filho pode preferir um modelo em particular, isto é ótimo , ele já está tomando decisões por si póprio .

Quando o especialista sentir que seu filho tem tido prática suficiente com estes modelos pré bengalas ele irá introduzir a bengala . Neste período seu filho estará independentemente caminhando com confiança .

Quando a instrução com a bengala começa , seu filho já deve ter desenvolvido as habilidades que o ajudarão a ter sucesso no uso da mesma.
Já deve ter aprendido sobre seu proprio corpo e como identificar partes dele . Aprendeu diferentes caminhos para localizar e segurar objetos . Quando a criança começa a explorar areas ao redor do seu proprio corpo , e quando ela começa a se mover com grande confiança em areas não familiares , ela aprenderá novas coisas sobre o seu ambiente . Ela usará a informação que adquiriu quando era mais jovem , como o uso dos objetos estacionários como pistas para ajudá-la a saber onde está .

Aprendendo a usar a bengala

Quando a bengala for introduzida a seu filho, ele pode gostar dela imediatamente, ou ele pode precisar de um tempo para ajustar-se a ela . Assim como as crianças tem diferentes reações ao uso da bengala , são os seus pais.Alguns ficam entusiasmados com a existencia de um instrumento que fará com que seu filho possa caminhar sozinho. Outros pais sentem-se embaraçados ou constrangidos com o fato de seu filho precisar usar a bengala.
Embora a bengala não seja como um brinquedo que as crianças que enxergam utilizam , ela permitirá que seu filho se locomova com as crianças que enxergam.
Se voce ainda está se sentindo inquieto com o uso da bengala, isso é completamente natural . Tenha em mente que voce está dando um grande passo em direção a sua independencia e a de seu filho .

A maioria das bengalas tem uma alça de elástico em sua extremidade superior . O elástico da alça deverá ser usado por seu filho , como um bracelete no punho , para que ele não a deixe cair . As bengalas são medidas para a altura de cada pessoa. E quando seu filho crescer será necessário uma bengala proporcional a sua altura .

É provavel que as pessoas observem seu filho e fiquem pasmos com sua habilidade . Isso pode ser dificil para os pais que não querem que seus filhos sejam alvos de observação . As pessoas podem até mesmo fazer questionamentos a voce e a seu filho . A maioria delas não o fazem para ofender, e sim por que são curiosas . Voce então terá a oportunidade de ajuda-las a compreenderem o quanto realmente independente o seu filho é e do quanto está orgulhoso dele .

Para crianças na pré escola aprender a usar a bengala não é diferente do que aprender qualquer outra nova habilidade . Nós começamos ensinando passos muito simples . Quando a criança usava a pré bengala era ensinado a ela que tudo quanto ela empurrava na sua frente , colidia primeiro . A bengala então fornecerá a criança informação sobre os ojetos no seu caminho .

Não há nehuma idade mágica de quando a bengala deverá ser introduzida . Alguns instrutores tomam a decisão baseada na necessidade da criança . Se eles preferem ensinar estas habilidades com brinquedos , pré bengalas especiais, ou a bengala , para alguns , não faz diferença . Algumas vezes , os especialistas sugerem que se prenda um pequeno guizo na extremidade superior da bengala para ajudar a criança lembrar a extremidade que será colocada no chão.

Começando com a pré bengala ou com a bengala, o primeiro conceito que a criança deve dominar é a compreensão de que ela pode empurrar qualquer coisa na frente dela com a qual se chocaria e proteger-se dessa colisão. Ela também deverá aprender como segurar a bengala e como controlá-la . Por exemplo, ela poderá perceber o quão rápido poderá caminhar enquanto a empurra . Ela também compreenderá que enquanto a está usando , ela produz diferentes sons quando a superficie do solo se alt era sobre as alterações na superficie ao ar livre , dando a ela pistas sobre o que virá .

Uma vez introduzida a bengala, seu filho poderá aprender a empurrá-la em sua frente usando as duas mãos e posteriormente apenas uma . Quando ele se sentir confortavel empurrando a bengala , poderá avançar seguindo a parede com ela. Usualmente ensina-se esta habilidade com a criança caminhando ao longo da parede segurando a bengala com a mão oposta a parede, tanto que a bengala atravessa o seu corpo, protegendo-a de algo a sua frente .
É importante lembrar que a proposta da bengala é informar a criança quando os objetos estão no seu caminho , tanto que ela possa evitá-los ou identificá-los .

A sequencia de instruções da orientação e mobilidade será alterada para cada criança de acordo com suas necessidades individuais .

Rosângela,

Sou Xiko Gonçalves, nasci cego e morei em dois colégios de internato para cegos, um em Belo Horizonte e o outro no Rio. Convivi portanto com muitas crianças cegas como eu.

A criança que já nasce cega tem grandes chances de ser uma pessoa capaz de se orientar pela reverberação dos sons, podendo assim em muitos casos administrar uma direção a percorrer, e saber quando virar ou mesmo parar. Diante disso, na sua casa no seu colégio, na casa do seu amigo a criança não precisará de usar bengala.

Bom mesmo será se ela puder ter contato com lugares amplos onde ela possa correr, rodar, dançar, etc. Você já ouviu que cegos jogam bola, não ouviu? Imagina se eles tivessem que jogar usando bengala? O importante na locomoção será estimular a percepção da reverberação.

Pra você ter uma idéia, eu normalmente ando muito, tanto na cidade que moro quanto em diversas outras pelo mundo a fora. Porém se você tampar os meus ouvidos, nem mesmo dentro do meu apartamento que é muito pequeno eu conseguirei andar.

Se você quizer trocar alguma idéia sobre este assunto, me liga.
Casa: (21) 2538-1177
cel (21) 9958-6011
Trabalho (21) 2159-4668

Fraternal abraço

Xiko Gonçalves

Salve

Aduzo aos depoimentos dos companheiros o meu, q, tive contato com a bengala já adulto, cerca de 20(vinte) anos, e, minha locomoção, se mostrou inferior aos cegos q tiveram contato com a bengala na infância….

Claro, q, cada pessoa tem sua habilidade, uns menos outros mais, mas, o contato com a bengala o mais cedo possível, trará resultados melhores…

Valdenito de Souza, o nacionalista místico

* Chico,

devo dizer que concordo contigo. É isso mesmo.

Abraços de luta,

Ricardo Azevedo

Amigos deixa eu ver se consigo ser claro: Acho que na infância a criança terá muito pouca necessidade de usar a bengala, pois ela estará sempre em casa, na casa de amigos ou na escola.

Nestes lugares, ela normalmente não precisará de usar bengala. Na rua, mesmo as crianças que não são cegas não andan só. Crianças na rua tem que andar acompanhadas e geralmente com um adulto segurando sua mão. Mesmo as crianças normais.

Quando ela chegar a adolecência, e quizer andar só na rua, aí sim ela tem que ser estimulada a usar a bengala. Bom mesmo é na infância, ela tentar desenvolver sua percepção de reverberação.

Acho que criança precisa de correr, se jogar no chão, dançar, todas essas coisas que vão melhorar sua percepção do espaço.

Espero ter sido mais claro.

Xiko Gonçalves

Chico, sua intervenção veio na medida. Posso também testemunhar, por ter vivido essa mesma experiência, quando criança, nos colégios internos em que estive.
Essa mobilidade fica comprometida quando a pessoa fica cega já adulta, considerando uma conjunção de fatores desfavoráveis à construção de nosso mapa mental.

Victor Alberto

Fala pessoal,

Um aspecto positivo na introdução da bengala o quanto antes é evitar um preconceito que eu, por exemplo, quando jovem, por volta dos 16 anos, em que passei a usar a bengala. tive.
Confesso que tinha vergonha de usar a bengala. Depois, até hoje, não vivo sem ela. Até no meu trabalho a utilizo para deixar bem claro para os demais minha condição física a fim de que eles se desviem de mim.

Márcio Lacerda

Márcio,

Concordo com você, acrescentando, que a criança pode alternar momentos de uso ou não da bengala; aprendendo assim, a utilizar este instrumento, quando julgar necessário.

Abraço,

margareth Olegario

Acho que a maioria de nós teve essa dificuldade, aliás, duas: uma a de começar a usar bengala e a outra é a de não conseguir mais deixar de usá-la.
Fato é, porém, que a percepção auditiva da qual falou o Chico, a de perceber os obstáculos com o ouvido que nós denominamos “tino” se desenvolve muito na fase em que somos criança e isso é desconhecido de muita gente.
Não sei se os teóricos levam isso em conta, falo do “tino”. Assim, tanto é importante a convivência com a bengala desde o mais cedo quan to o é ficar sem ela pois, como bem disse o chico, como jogar bola ou mesmo praticar outros esportes de bengala? Daí, minha opinião, cada vez mais sedimentada de que a convivência entre os iguais (no que se refere a ter a mesma deficiência) é tão importante quanto a com os de mais.

Por isso é que temo que a escola inclusiva não seja tão inclusiva assim como crêem os teóricos, é porque há coisas que não se aprendem com professores, é com o convívio mesmo. Que professor ensinaria a jogar bola, pular corda, brincar de pêra uva ou maçã, etc, principalmente etc!

Leniro Alves

* Querida Rosangela:

concordo com o Chico, falo porque no desenvolvimento do pequeno Lucas, tem acontecido o que Chico colocou.

Outro dia ele estava no pátio no gramado com os amigos e ele junto com os outros corria e brincava como os outros num senso de direção que a mim me impressionou.

ele vai no banheiro só . a sala dele é longe enfim acho que aos poucos ele deverá conhecer a bengala sim.
entretanto ele terá que saber o tempo certo.

abraços,

Paulo Cesar da Silva Fonoaudiólogo/psicopedagogo

Eu também concordo com o chico. Acho que até pode se apresentar a bengala para criança. Porem ensentivar o uso dependendo da idade, acho muito precipitado..

Roberto Paixão

Se aprendêssemos desde cedo a usar a bengala como peça indispensável a nossas vidas, como são os óculos para quem precisa deles, ou as cadeiras de rodas para os cadeirantes, sob a supervisão de profissionais regiamente preparados, ppossivelmente nos adaptaríamos às diversas brincadeiras e quem sabe até criaríamos outras, além do que, evitaríamos este preconceito.

abraços.

Manoel Alves Guirra

É isso mesmo, Leniro!

E outra coisa que não se pode deixar de considerar, é que na infância se desenvolve certos sentidos com mais facilidade, sendo bom que a criança cega aprenda a calcular intuitivamente a distância entre os locais que precisa transitar, que aprenda a perceber detalhes no piso ou no asfalto, como mais áspero, mais liso, mais inclinado, etc. E isso vai acontecendo na prática mesmo de andar, esbarrar, errar o caminho, cair até!!!

Mas, isso vai ajudá-la na sua desenvoltura.

Sou cega desde bebê: Brinquei muito com meus irmãos e com os amigos na escola. Subi em árvore, brinquei de pique e todas brincadeiras das crianças da época. Nem lembrava da minha deficiência! Só comecei a me dá conta lá pelos dez onze anos. Aí, veio logo a necessidade da bengala, porque já comecei a querer ser independente e andar sozinha.

Abraços!

Cristina Freitas.

Olá Margareth e todos,

obrigada a todos pelas contribuições . Achei que o texto era interessante porque falava da importancia da criança se familiarizar desde cedo com o instrumento que poderá lhe permitir ter independencia e também por que o artigo trata do aspecto psicológico do uso da bengala, do impacto que a mesma causou e em alguns ainda causa , tanto nas pessoas que são usuárias como em suas familias .

Quando clicamos no google em português em busca de literatura sobre o assunto, não há quase nada , quando fazemos a  busca em inglês , é incrivel quanto de literatura há, por isso achei importante traduzir o artigo e discuti-lo. Enfim, a bengala não será usada para substituir momentos de diversão, muito pelo contrário poderá permitir maior autonomia á criança e facilitar que se insira nas brincadeiras.

Para tornar a bengala algo mais atrativo e inseri-la no universo infantil, ,mandei pintar a da Laura de cor de rosa e ainda com alguns desenhos de florzinhas . Quem disse que a bengala tem que ser branca ?, porque ela não pode ser rosa para meninas e azul para meninos ?

Bom, depois dou noticia para voces sobre o desempenho da Laura , se ela está gostando, se quer usar, se melhorou sua autonomia, se as crianças na escola querem brincar também com a bengala, etc.

Rosangela Gera