É muito comum falar sobre inclusão hoje em dia, ainda mais nos ambientes corporativos. Mas ainda vemos muitas empresas contratando deficientes apenas por causa da lei de cotas, porém sem estrutura ou cultura para receber profissionais com deficiência.
A experiência acaba não sendo tão boa ou produtiva quanto poderia. E nem vou comentar sobre as empresas que alegam não ter deficientes capacitados para cumprir as cotas necessárias, ou as que contratam apenas pessoas com deficiência leve.
O assunto ainda é delicado e pouco discutido, mas sei que basta a empresa querer e entender o que realmente é inclusão – que pra mim é tratar todos da mesma forma – para que as coisas aconteçam.
O Jairo Marques, do Blog “Assim como você” já tinha feito um post sobre a Chemtech – empresa especializada em soluções d e engenharia e TI – falando sobre a postura da empresa na hora de contratar deficientes, mas achei que podíamos falar mais um pouco sobre o assunto e mostrar como foi o processo na hora de contratar deficientes e o resultado dessa experiência.
Conversamos com Daniella Gallo, gerente de RH da Chemtech, e percebemos que contratar deficientes não é um Bicho de 7 cabeças . Basta querer.
Cris: Como a Chemtech se estruturou para contratar pessoas com deficiência? (Como foi o processo seletivo, o que procuraram nos candidatos)
Daniella: Antes de iniciar os processos seletivos, fizemos uma parceria com o IBDD – Instituto Brasileiro de Pessoas com Deficiência e promovemos uma palestra para conscientização e sensibilização dos gerentes e líderes da Chemtech.
Nesta palestra o IBDD falou sobre o cenário atual, sobre as dificuldades na empregabilidade de pessoas com deficiência, mas, principalmente, nos fez perceber a importância da causa e da responsabilidade que todos nós temos em ajudar, não no sentido assistencialista, mas dando oportunidades iguais para os profissionais com deficiência.
No início dos processos seletivos, começamos a buscar profissionais que tivessem a formação e a experiência necessária para atuar nos projetos da empresa. Mas logo percebemos que devido às dificuldades reais que os deficientes possuem, somadas à falta de apoio do governo, sempre é mais difícil para pessoas com deficiência terem acesso À s universidades e ao mercado de trabalho.
Neste momento, tomamos a decisão de inverter o foco: ao invés de buscar profissionais que se encaixavam nas vagas existentes, resolvemos procurar pessoas com o perfil comportamental desejado pela empresa e avaliar o potencial delas, tentando identificar em quais posições da empresa (mesmo que não houvesse vagas em aberto) elas poderiam contribuir e se desenvolver. Além disto, entendemos que era responsabilidade também da Chemtech, colaborar para a capacitação de pessoas com deficiência.
Então fizemos um processo buscando pessoas com o perfil comportamental da Chemtech e potencial para trabalhar com ferramentas de SW e promovemos os cursos de AutoCAD gratuitamente para cerca de 30 profissionais com deficiência e contratamos cerca de 10 alunos no final.
Outros pontos importantes:
1. Em nenhum momento do processo escolhemos o tipo de deficiência.
O primeiro funcionário contratado neste processo foi o Ricardo Gonzalez que é tetraplégico. E eu tive o total apoio da diretoria (Rubião e Denise) para contratá-lo!
2. Buscamos deficientes “resolvidos”, isto é, aqueles que não tinham pena de si mesmos e eram amargurados; buscamos pessoas que conseguiram vencer a deficiência, no sentido de aceitar a limitação, mas não deixar-se vencer por ela!
Cris: Foi necessário fazer grandes alterações na estrutura da empresa (rampas, banheiros, softwares)? O custo foi alto?
Daniella: Não. Tivemos que adaptar alguns andares (instalação de rampas e Barras nos banheiros) para torná-los acessíveis. Estamos fazendo isto aos poucos, conforme formos contratando cadeirantes para cada andar. Nossa intenção é que toda a Chemtech seja acessível. Além disto, adquirimos o SW de comando de computador por voz para o Ricardo. Pequenas e poucas alterações foram requeridas.
Cris: Qual foi a maior dificuldade na contratação? (barreiras arquitetônicas, candidatos com pouca qualificação?)
Daniella: Conforme expliquei no item 1, tivemos dificuldades no início, pois estávamos procurando candidatos qualificados para as vagas existentes. Depois que mudamos o foco da seleção e investimos em capacitação, ficou mais fácil.
Cris: Houve algum treinamento para as áreas que iriam passar a incluir deficientes em suas equipes? Como foi?
Daniella: Sim. Promovemos encontros com as equipes que iriam receber novos colegas deficientes, com o objetivo de conscientizá-los e prepará-los. A idéia é sempre passar a seguinte mensagem: agir com naturalidade, não ter uma postura assistencialista e entender que o novo colega é mais um profissional, que será cobrado da mesma forma que os demais.
Cris: O resultado do trabalho dos funcionários com deficiência foi o esperado?
Daniella: Surpreendemos-nos com a maioria dos deficientes contratados, pois são profissionais com ótima postura, batalhadores e pessoas que enriquecem o nosso dia-a-dia. Foram poucos os casos que necessitaram de alguma atuação extra, como realocação ou dificuldade de adaptação – dentro do percentual normal, que ocorre em qualquer contratação, independente da deficiência!
Site da Chemtech : www.chemtech.com.br
Fonte: Blog Mão na Roda: http://oglobo.globo.com/blogs/maonaroda/