Para-pan: uma ode à discriminação

Vidas paralelas

Os jogos Parapanamericanos acabaram. Ufa. Apesar da pouca cobertura da mídia, a que existia era para mostrar o lado heróico desses coitadinhos dos deficientes que “a despeito” das suas limitações, muitas vezes severas, conseguiram vencer na vida e ter os seus 5 minutos de fama (ah, você me corrige e diz que na frase do Warhol eram 15 minutos de fama, mas eu descobri que no caso das pessoas com deficiência 10 desses minutos foram amputados, ops, será que posso usar esse termo aqui ?).

Mas os jogos dividiram a opinião da comunidade das pessoas com deficiência. De um lado aqueles que defendiam os jogos como uma forma de luta contra a discriminação.
De outro (onde me incluo) aqueles que perceberam que os jogos eram ainda mais discriminatórios que o dia-a-dia.
O prefixo “para” , vem do grego e quer dizer algo que está “ao lado de” algo, paralelo a , mas que não é o mesmo algo, ainda que compartilhe parte da sua essência.
A parapsicologia estuda os eventos psíquicos, assim como a psicologia, mas se restringe aqueles que tem aparência sobrenatural.
Um parâmetro é uma medida ou referência paralela ao que se mede. Um livro paradidático pode até ajudar no ensino, mas é considerado algo fora do eixo formal do aprendizado.
Uma das coisas que eu nunca esqueço das minhas aulas de geometria do ginásio é que as linhas paralelas só se encontram no infinito.
Quando lembro que o Para-Pan é o que ocorre em paralelo ao Pan, isso só está me dizendo que as linhas paralelas (“normais” e “estranhos”) nunca vão se tocar…exceto no infinito.

Porque é que precisamos ser “Para” , se nós acreditamos que não podemos continuar vivendo em mundos separados ??

Se eu aceito o Parapan, dentro da mesma lógica, eu aceito a Para-escola, o Para-emprego , o Para-seguro-saúde….
Por quê que atender a diversidade se eu posso isolar as pessoas em grupos homogêneos ??
Agora se eu luto por uma escola/emprego/sociedade de todos juntos respeitando a diversidade e as limitações de cada um, o que eu preciso é de uma vida que não seja “para-nada” com todas as pessoas incluídas.

Inclusão é traçar linhas diagonais, ortogonais , assimétricas, aleatórias. Rabiscar o papel da vida de uma forma que as linhas se toquem e se encontrem o tempo todo.
Usar as mais variadas cores de grafite, tinta e o que mais houver.

Até o limite onde não se saiba mais qual linha teve origem aonde.

Agosto de 2007

*Créditos:Fábio Adiron — moderador do Grupo Síndrome de Down no Yahoo Grupos e membro da Comissão Executiva do Fórum Permanente de Educação Inclusiva.
Fonte: xiita da inclusão